terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Moção de Apoio à ocupação e às manifestações pelo Impeachment do Governador DEMO José Roberto Arruda e de seu vice

Moção de Apoio à ocupação e às manifestações pelo Impeachment do Governador DEMO José Roberto Arruda, do Distrito Federal, e de seu vice, Paulo Octávio

São Paulo, 08 de dezembro de 2009.

A gestão "Veredas" do Centro Acadêmico de Estudos Literários e Linguísticos "Oswald de Andrade" (CAELL), dos estudantes de Letras da Universidade de São Paulo, vem a público declarar apoio à luta dos estudantes, trabalhadores e da população do Distrito Federal que, em protesto contra o mensalão Democrata comandado pelo Governador José Roberto Arruda, ocuparam o Plenário da Câmara Legislativa do Distrito Federal na noite do dia 02 de dezembro de 2009.

Na última década são inúmeros os escândalos de corrupção envolvendo os governantes de nosso País, em sua grande maioria sem qualquer tipo de punição aos envolvidos: dinheiro na cueca, mensalão para parlamentares, máfia dos sanguessugas, desvios em obras, fraudes em licitações, tráfico de influência, uso da máquina e até atos secretos no Senado Federal. Todos ficaram impunes.

Devemos combater cotidianamente a corrupção e a impunidade em todas as esferas de poder de nosso País. Basta de escândalos, de mensalões e de afrontas à democracia. Consideramos legítima essa ocupação e a reivindicamos como a representação de uma luta que o povo brasileiro precisa tomar para si: a exigência de seriedade e compromisso com o povo por parte de nossos representantes. 

O pedido de reintegração de posse, aprovado em caráter liminar pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal e reafirmado pela intimação contra o Secretário de Segurança Pública do DF apenas reforça o caráter de desrespeito à população, de afronta à democracia, à organização estudantil e ao direito de manifestação que já são conhecidos nos governos DEMO-Tucanos. Repudiamos tal atitude e, assim como a EXNEL (Executiva Nacional dos Estudantes de Letras), chamamos a solidariedade e o apoio dos estudantes, de entidades e da população a esta luta contra a corrupção, pela apuração de todas as denúncias, pela prisão dos corruptos e corruptores, pela devolução do dinheiro desviado aos cofres públicos e pela saída do governador José Roberto Arruda (DEMO), de seu vice, Paulo Octávio (DEMO) e de todos os parlamentares, secretários, assessores e demais envolvidos no mensalão Democrata.

Convidamos outras entidades para que assinem esta moção.

Fora Arruda e toda a sua Máfia!
Contra a reintegração de posse!

CAELL "Oswald de Andrade", dos Estudantes de Letras da FFLCH/USP.
Gestão Veredas 2009/2010

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Palestras sobre os Livros da FUVEST, ministradas por professores da FFLCH/USP, e debates sobre a Universidade Pública

Nossa luta é para além dos muros!

Em 2007, durante a ocupação da reitoria da USP, estudantes de Letras da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH) organizaram – como atividade de greve – um ciclo de palestras sobre os livros cobrados no vestibular da FUVEST. A idéia inicial era unir vestibulandos – em especial aqueles ligados a cursinhos populares – ao ambiente universitário e fazer com eles um debate aberto sobre a universidade pública e seus (des)caminhos.

Dois anos se passaram e chegamos ao terceiro ciclo de palestras. Não há muito que o comemorar. Num movimento inversamente proporcional, em 2009 quem ocupou as ruas e reitoria de nossa universidade foi a Polícia Militar. Se há dois anos atrás vivíamos num clima democrático e de intenso debate político, hoje o cheiro do gás de pimenta e os estouros da bombas de efeito moral ainda pululam as mentes dos presentes no fatídico 9 de Junho.

Debater a universidade pública se faz mais importante do que nunca.

Dificuldades não faltam. A burocracia acadêmica se recusa a ceder um de seus auditórios ou anfiteatros, o evento todo é custeado por estudantes e a comissão organizadora é bem pequena se comparada ao tamanho do evento.

O esforço necessário para construção do evento é hercúleo se avaliarmos nossa força e paradoxalmente diminuto se pensarmos na responsabilidade social que nossa universidade deveria ter.

Portanto, não o convidamos simplesmente para assistir palestras sobre livros canônicos que poderão o ajudar a passar no vestibular. Apesar de propiciar um ótimo momento para o vestibulando entrar em contato com o ambiente acadêmico, não é disso – ou somente disso – que se trata o ciclo.

É a hora e vez de debatermos o caráter público de nossa universidade. Para quê e a quem serve? Mais do que isso, colocar em questão assuntos outros que concernem à realidade de todos, por isso o ciclo será acompanhado de uma série de debates que abordarão não só a universidade, como também educação pública, políticas de ação afirmativa e movimentos sociais.

Pensamos as atividades semanalmente, em dias alternados, para que os cursinhos pudessem se organizar e assistir todas palestras, assim como pensamos em começar toda atividade às 18h para que os vestibulandos trabalhadores possam chegar a tempo.

Começaremos nessa sexta (25) com o livro "Auto da barca do inferno" e uma breve mesa de apresentação. Será no núcleo de Consciência Negra da USP.

ACESSE, DIVULGUE E PARTICIPE! http://palestrasfuvest.wordpress.com/

Este ciclo é organizado por estudantes de Letras e pelo CAELL "Oswald de Andrade", o Centro Acadêmico dos estudantes de Letras da USP.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Carta Aberta dos Estudantes de Letras

Desde que entraram em greve, no começo do mês de junho, os estudantes de Letras da Universidade de São Paulo optaram por não retirar cadeiras das salas de aula, nem mesmo fazer piquetes na frente do prédio.

Essa decisão consensual no meio estudantil tinha por objetivo zelar pelo diálogo e convencimento entre as partes, portanto, sempre que uma aula começava, um grupo era formado para informar os colegas de curso sobre as decisões das assembléias (tanto de estudantes como de professores e funcionários), esclarecer dúvidas e convencê-los a aderir ao movimento.

No dia oito de junho, um professor, Gabriel Antunes de Araujo, impediu um grupo de estudantes de levar essas informações aos seus alunos. As turmas deste professor eram as únicas, no curso de Letras, a se manterem completamente lotadas durante a greve. Ao final dessa aula, uma aluna do professor encaminhou-se à assembléia dos estudantes da Letras que acontecia na entrada principal do prédio e deu informe de que o professor teria a prática de, talvez para impedi-los de aderir ao movimento grevista, informar aos alunos que ele não estava em greve, não aderiria a ela e seus alunos que o fizessem correriam o risco de ser reprovados ou por acúmulo de
faltas ou por perda de avaliações. Foi decisão unânime da assembléia que a atitude do professor poderia configurar assédio moral, já que alunos seus estavam sendo impedidos de decidir por si próprios, como informara esta estudante, se adeririam ou não à greve já deflagrada pelos três setores (professores, estudantes e funcionários). A assembléia decidiu, então, de forma conjunta, encaminhar-se até a sala onde o professor estava, sem piquete físico do lado de fora, mas com piquete moral do lado de dentro, e garantir que seus representados estudantes fossem informados, esclarecidos e tivessem o
direito de decidir por si próprios se queriam continuar dentro aquela sala ou sair dela, sem nenhuma pressão ou assédio moral.

Assim que os primeiros estudantes entraram na sala, o professor doutor
Gabriel Antunes de Araújo correu em direção a eles, deu um salto e socou com os dois punhos o peito de um ingressante do primeiro
semestre do curso, empurrando-o para trás. Em seguida, o professor saltou à porta, bateu-a com força contra os demais estudantes que entravam e tentou mantê-la fechada à força, colocando um dos pés para trás, para ter mais apoio, danificando a maçaneta da porta. Percebendo o ridículo da situação, o professor recuou, foi até sua mesa, sacou seu aparelho de telefone celular e começou a fotografar o rosto dos estudantes da assembléia. Percebendo a movimentação, outros professores que passavam pelos corredores tentaram acalmar os ânimos tanto do professor quanto dos estudantes, propondo que ali se estabelecesse o diálogo. A partir daí, Gabriel Araujo passou a dizer,
ainda em estado alterado, que nenhum estudante estaria coagido a assistir suas aulas. "Não recebo por cabeça, portanto é até melhor que eu tenha menos alunos na sala de aula", disse provocativamente o professor. Disse isso tudo não sem dirigir, de forma lamentável para um professor da universidade mais respeitada do país, palavras de baixo calão a um dos diretores do CAELL, o centro acadêmico dos
estudantes do curso de Letras da USP.

Este mesmo professor, semanas antes, entrara em conflito com o movimento estudantil, quando, segundo relatos, haveria agredido verbalmente uma aluna em uma paralisação. Na ocasião os estudantes decidiram fechar uma das entradas do prédio e deixar a outra aberta. Araujo, para espanto de todos, teria olhado de forma provocativa aos manifestantes e começado a empurrar agressivamente mesa e cadeira que ali estavam para cima de uma aluna, em uma tentativa brusca de forçar passagem. Intimidada, nossa colega retirou-se rumo à biblioteca. Tivemos relatos de que ele a teria seguido e apontado o dedo, de forma ameaçadora. Segundo outras pessoas, que ouviam mas não
viam o incidente, ele estaria "berrando que nem um maluco".

Esse mesmo professor teria caracterizado diversas vezes, em sala de aula e fora dela, o movimento de estudantes, professores e funcionários de maneira pejorativa e caluniosa. Segundo alunos matriculados nesse semestre, nas duas matérias lecionadas por ele, desde que a greve começou, o docente teria cobrado presença dos alunos, marcado prova e avisado por e-mail que o conteúdo da mesma seria dado durante o período de greve.

São, no mínimo, insensatas as posições deste professor, cuja contratação pela USP só foi possível graças ao longo movimento grevista de 2002, que conquistou a maior contratação de professores da história da Faculdade. Entretanto, deixamos de nos surpreender, quando passamos a saber que, publicamente, Gabriel Antunes de Araujo é partidário de João Grandino Rodas, o membro do CO responsável pela relatoria da resolução que autoriza a entrada da PM na universidade.

Após todos os incidentes relatados acima, mostrando e confirmando que não cederia ao diálogo de forma alguma - diálogo tão prezado e necessário em uma universidade, local onde as divergências e o debate são tão imprescindíveis quanto dispensáveis são a truculência, a força física, a ameaça moral e policial -, o professor resolveu continuar suas aulas no prédio da Química, para onde convocou seus alunos.

Todos estes fatos aqui relatados foram colhidos de inúmeras testemunhas que assistiram, estupefatas, ao rol de arroubos cênicos descontrolados do professor. Caso algum departamento, a Congregação ou outra parte qualquer considere necessário, nós podemos convocar essas testemunhas para relatar pessoalmente cada um desses lamentáveis acontecimentos protagonizados por um professor tão respeitado por sua produção acadêmica, mas tão relapso em
respeito à democracia e ao debate de idéias, um fundamento indispensável, para a produção de conhecimento na universidade.

Estudantes do curso de Letras da USP:

Amanda de Moraes Brito
Ana Beatriz da Costa Moreira
Ana Cláudia Borguin
Antônio Fernandes Góes Neto
Arielli Tavares Moreira
Beatriz Cyrineo Pereira
Carolina Solano Carrion
Diego Navarro
Diogo Moraes Leite
Edilson da Silva Cruz
Emi Asakura
Erika Pires
Estevão Pascole
Fernando Bustamante
Fernando Peres Penteado
Francisco Cabral
Gabriela Hipólito
Guilherme Augusto de Assis Rodrigues
Gustavo Diniz de Faria
Ícaro Francesconi Gatti
Isadora Rebello
Ísis Liberato Martins
Ivan Antunes
João Paulo de Cária Silva
José Eduardo de Souza Góes
José Quibao Neto
Julia de Almeida
Juliana Lopes Miasso
Kraly de Castella
Lucas George
Leandro Paixão
Luciana Placucci Vizzoto
Luiz Henrique Vieira Lins
Maria Júlia Alves Garcia Montero
Marcilia Barros Brito
Marina Almeida Nascimento
Micael Cimet Dattoli
Michel de Castro Sousa
Milena de Moura Barba
Natalya Amaral Stabile
Nathalia Canale Guerra
Oriana Harumi de Lima Tanaka
Pablo Angyalossy Alfonso
Paula Aparecida Carvalho
Pedro Ribeiro
Peter Mac Hamilton
Raiana Araujo
Rafael de Almeida Padial
Rafael Zanvettor
Renata Alves da Silva
Ricardo Maciel
Sâmia de Souza Bomfim
Simone Oliveira
Suelen A Pereira
Taila Virgine Costa
Tatiana Castro
Thais França Freire
Vanessa Couto da Silva
Vinícius de Lima Zaparoli
Vitor Mortara

Solidariamente, estudantes de outros cursos da USP:

Gabriela Iglesias - Ciências Sociais
Luana Cordeiro Cardoso - Ciências Sociais
Ludmila Facella - Artes Cênicas
Amanda Freire de Sousa - Filosofia

Solidariamente:

Diego Vilanova, professor da rede estadual
Maicon Alves de Miranda, empresário
Maria Estela Veneziane, estudante de Psicologia da Unicsul
Teila Cristina Veneziane, psicóloga
Ana Cristina Oliveira da Silva, professora de História, Recife/PE
Rosa Guadalupe Soares Udaeta, historiadora

As seguintes entidades e órgãos representativos:

Gestão Ver Com Olhos Livres, do CAELL
Comando de Greve dos Estudantes da Letras USP
Assembléia do curso de Letras

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Carreira Docente:Liminar suspende mudança na carreira

Do site da ADUSP
http://www.adusp.org.br/noticias/expresso/boletim_143/index.html

Carreira Docente:
Liminar suspende mudança na carreira

Cumprindo deliberação da Assembléia Geral da Adusp de 25/6, foram impetrados 16 mandados de segurança contra a reforma da carreira, aprovada pelo Co em 04/3, que introduziu a progressão horizontal nos níveis de professor doutor e professor associado. Um desses mandados recebeu decisão favorável a nossos pleitos. Leia abaixo o relato da Assessoria Jurídica da Adusp.

"Por força de decisão da Assembléia Geral da Adusp, ao departamento jurídico da entidade foi requerido empreender todos os esforços no sentido de suspender e anular a decisão do Conselho Universitário da USP de 04.03.2009 que altera, por meio da Resolução 5529/09, a carreira docente.

Nesse sentido, a Adusp impetrou Mandado de Segurança Coletivo para suspender a aludida decisão do Conselho. Não tendo obtido liminar favorável, adotou como estratégia a desistência da ação coletiva e o ingresso de inúmeras ações individuais, a fim de distribuir a matéria para conhecimento do maior número possível de varas da Fazenda Pública.

Nesse sentido, a 7a. Vara da Fazenda Pública, em 15.07.2009 CONCEDEU MEDIDA LIMINAR em uma dessas ações individuais para 'SUSPENDER OS EFEITOS DA DECISÃO APROVADA PELO CONSELHO UNIVERSITÁRIO DA USP EM 04.03.2009, ora atacada com a presente ação mandamental, ATÉ ULTERIOR DELIBERAÇÃO JUDICIAL'.

A Universidade poderá ainda recorrer dessa decisão e, ainda se cassada a liminar, haverá julgamento de mérito dessa ação e das demais."

Vamos ver se assim a reitoria acata o recurso
administrativo contra a decisão do Co


quarta-feira, 15 de julho de 2009

Novas fronteiras na educação superior, do Secretário do Ensino Superior, na Folha de SP.


A Univesp traz uma forma de conceber a educação que amplia o tempo e o espaço de atuação das instituições de ensino superior


O PROGRAMA Univesp (Universidade Virtual do Estado de São Paulo), concebido pelo governo estadual, por meio da Secretaria de Ensino Superior (SES), para desenvolver-se e funcionar em parceria com a USP, a Unicamp e a Unesp, tem como objetivo contribuir para a expansão do ensino público superior paulista.
A estrutura consorciada da Univesp agrega ainda outras importantes instituições, como a Fundação Padre Anchieta, a Fapesp, a Fundap, a Imprensa Oficial e o Centro Paula Souza. Os cursos a serem oferecidos via Univesp têm o seu projeto acadêmico e os seus conteúdos formulados pelas universidades que os propõem, e elas são responsáveis também pelo processo de seleção para o ingresso dos estudantes, bem como pela avaliação de seu desempenho nos cursos.
À Univesp cabe garantir as condições materiais, financeiras e tecnológicas para a realização desses cursos, acompanhando, de modo integrado com a instituição parceira, a sua realização, o seu desenvolvimento e o aproveitamento dos alunos neles matriculados.
Como se trata de um programa de ensino superior que supõe o uso intensivo das tecnologias de informação e de comunicação, além das práticas e das metodologias mais tradicionais de ensino, incluindo um componente significativo de atividades presenciais, a Univesp conta com um recurso que muito contribui para a sua singularidade no cenário do ensino superior público e gratuito no Brasil: a participação da Fundação Padre Anchieta no programa, com a implantação da tecnologia digital no seu sistema de televisão, permitiu que fosse criada a Univesp-TV, com um canal aberto dedicado exclusivamente à programação da universidade virtual.
O apoio efetivo que o governo do Estado tem dado ao projeto, desde o momento em que o apresentei ao governador, quando eu ainda era presidente da Fapesp, veio se concretizando inclusive na dotação orçamentária da Secretaria de Ensino Superior para a implantação e o desenvolvimento do programa com recursos do governo e sem nenhum ônus adicional para as instituições parceiras.
Estivemos, desde que fui designado secretário de Ensino Superior, em agosto de 2007, envolvidos num trabalho intenso e agradável de conversações, planos, ajustes, acertos e definições com as instituições que participam do projeto, em especial as universidades, o Centro Paula Souza e a Fundação Padre Anchieta. A virtualidade da Univesp é também, por paradoxal que seja a afirmação, o que lhe dá realidade, presença e necessidade no cenário da educação superior em São Paulo e no Brasil.
Associando e integrando metodologias tradicionais e tecnologias inovadoras de ensino, a Univesp, enquanto consórcio de instituições competentes, tem, desde a sua concepção, sua estrutura e seu funcionamento, o compromisso e a obrigação da qualidade.
Trata-se de uma forma de conceber a educação que amplia o tempo e o espaço de atuação das instituições de ensino superior, forma esta que vem sendo utilizada com sucesso em várias universidades de ponta em diferentes países, como é o caso da Universidade Virtual do Pays de La Loire (França), Universidade Aberta da Catalunha (Espanha), a Open University (Inglaterra) e a Universidade Virtual do Instituto Tecnológico de Monterrey (México).
Organizando suas atividades presenciais por polos distribuídos em diferentes regiões do Estado, mantendo um contato constante e sistemático com seus estudantes por meio da internet -pela plataforma de aprendizagem Tidia AE, desenvolvida pela Fapesp-, da Univesp-TV, da telefonia e dos materiais didáticos impressos para a realização e o acompanhamento das atividades de ensino e a avaliação de desempenho dos alunos, a Universidade Virtual do Estado de São Paulo estende o espaço físico que abriga nossas universidades e interioriza, ampliando-o, o abrigo que essas instituições oferecem aos destinos e às destinações profissionais e humanas das populações jovens de nosso Estado e de nosso país.
O jovem vai à universidade, e a universidade vai à sua juventude como possibilidade concreta no caminho de sua trajetória social, contribuindo para aumentar a oferta de vagas no ensino superior público gratuito e criando condições de maiores facilidades operacionais para o deslocamento geográfico do estudante que parte de seus interiores em busca das grandes instituições paulistas.
Dessa vez, as universidades se movem até eles e, neles, buscam também o abrigo vivo para o exercício pleno de sua missão maior, que é educar e, pela educação, transformar em cultura dinâmica para a vida os processos de ensino e aprendizagem, de produção, de difusão e de divulgação do conhecimento associados à responsabilidade ética e profissional que a formação universitária deve consolidar em seus estudantes.

CARLOS VOGT, 66, poeta e linguista, é secretário de Ensino Superior do Estado de São Paulo. Foi reitor da Unicamp (1990 a 1994), vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e presidente da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) de 2002 a 2007.

sábado, 4 de julho de 2009

ASSEMBLEIA DOS ESTUDANTES DE LETRAS!

Pauta: Greve.
Dia: 06/07
Horário: 10h e 19h.
Local: Em frente ao prédio de Letras.


Compareçam!

sábado, 27 de junho de 2009

Lançamento do Fórum pela Democratização das Universidades Estaduais Paulistas

da ADUSP:

Caros colegas,

Convidamos a todos para o ato público de lançamento do Fórum pela
Democratização das Universidades Estaduais Paulistas, dia 29/6,
segunda-feira, 12h, em frente à Reitoria da USP. Este ato ocorrerá
simultaneamente à reunião de negociação entre o Cruesp e o Fórum das Seis.

Convidados: Francisco de Oliveira, Maria Victoria Benevides e Marilena
Chauí

Contamos com a sua presença!

Diretoria da Adusp S. Sind.



terça-feira, 23 de junho de 2009

Cabeçalho da convocatória do "FlashMob AntiGreve" foi enviada pelo e-mail institucional da Diretoria da FEA

Apenas o cabeçalho da mensagem:

---------- Forwarded message ----------
From: Comunicação & Desenvolvimento FEA-USP <ced@usp.br>
Date: 2009/6/22
Subject: Flash Mob - Quinta Feira às 12h30
To: Comunicação & Desenvolvimento FEA-USP <ced@usp.br>

Nossa pergunta: Como se qualifica juridicamente isso?

domingo, 21 de junho de 2009

Programação de Atividades da Greve de Letras/FFLCH-USP (22 a 26/06)

Segunda-feira 22/6
10h00: Aula: Democracia na Universidade
Profº Luizito, Adma, Henrique Carneiro e Brandão (Sintusp)
12h00: Ato em frente à Reitoria
19h30: Palestra com Vladimir Safatle (depto. Filosofia)

Terça-feira 23/6 9h00: Aula "Literatura e Direitos Humanos", com João Adolfo Hansen, Roberto Zular e Marcos Natali.
10h30: Palestra sobre a Situação do Haiti (na Geografia)
17h00: Aula "Literatura e Direitos Humanos", com João Adolfo Hansen, Roberto Zular e Marcos Natali.
18h00: Assembléia Geral dos Estudantes, em frente à reitoria.

Quarta-feira 24/6 10h00: Palestra com Jorge Luiz Souto Maior (jurista e prof. da SanFran) com tema: "O processo de terceirização no serviço público e na USP" no auditório da História
19h30: Palestra sobre Univesp com APEOESP, uniafro e um professor da USP (a confirmar).
FESTA JUNINA DA FFLCH, a partir das 18h00, no estacionamento da Hist/Geo

Quinta-feira 25/6
10h00 e 19h00: Assembléia da Letras

Sexta-feira 26/6 10h00: Comando de Greve
20h00: show do TOM ZÉ (p/ arrecadação do fundo de greve) no velódromo - R$10

UNIVESP: piora iminente travestida de boa intenção [análise]

O texto abaixo (que segue na íntegra) foi publicado no blog breviário.org e faz uma boa análise sobre a UNIVESP e também sobre os últimos acontecimentos na USP.

Um dos pilares dos problemas atuais na Universidade de São Paulo é a vindoura instalação da assim chamada Universidade Virtual do Estado de São Paulo, a UNIVESP. Há uma desinformação assombrosa sobre o tema; pretendo expor em detalhes os problemas do projeto apresentado pelo governo estadual, não sem antes fazer algumas considerações a respeito do desconhecimento crônico da iniciativa.

Muitos alunos que se proclamam "contra a greve" e até "a favor da PM" não têm a mínima ideia do que é a UNIVESP e do que ela significa. Quando ficam sabendo que se trata de um projeto para criar cursos de ensino superior à distância, abraçam em maioria a defesa da iniciativa, sem fazer a devida reflexão sobre o tema: buscam argumentos a favor do ensino à distância que são não raro generalistas e improcedentes. Ora, não há a mínima lógica em apoiar algo que não se sabe o que é – e demonizar aqueles que são contra e conhecem os motivos para ter essa posição.

Não preciso dizer que seria desejável que a "maioria absoluta dos estudantes que é contra a greve" deveria ter embasamento em sua posição. Como já disse no post anterior, fui contrário à greve até o dia 9, quando passei a considerá-la necessária como resposta à ação violenta da PM. Antes disso, repetindo, era contrário, por motivos expostos no post anterior. Mas não me eximi e li o projeto que agora vou comentar.

***

O projeto começa com sua "Introdução" a dizer coisas muito justas e outras involuntariamente muito cômicas. A primeira das cômicas é a seguinte:

Os cursos de graduação, pós-graduação e extensão oferecidos pelas três universidades públicas do estado apresentam algumas das maiores relações de candidatos por vaga do país, o que confirma o alto nível oferecido na educação superior.

Esse fato, utilizado para falar bem das instituições de ensino superior acaba sendo mais uma prova de que há mais procura do que vagas, ou seja, uma relativa insuficiência. Mas é bom lembrar que o ensino superior universitário não precisa ser universal – insistir na "necessidade" de ampliar as vagas no ensino superior é desconhecer os problemas que já existem:

Entretanto, mesmo considerando-se as relações mundialmente acertas [sic] para a composição da pirâmide estudantil, e conseqüentemente da composição da pirâmide sócio-econômica, uma parcela bem pequena da comunidade estadual consegue o privilégio de desfrutar do ensino de qualidade oferecido pelas universidades públicas estaduais.

Aí entrariam discussões muito amplas, como a real necessidade da maioria da população ter um diploma de ensino superior. Sabemos que no Brasil há uma demanda irreal por diplomas, e qualquer torneiro mecânico teme precisar de um diploma de engenharia para conseguir emprego de… torneiro mecânico! É uma inversão completa de valores, representada até na recente música de Seu Jorge, Trabalhador brasileiro: "Tem gari por aí que é formado engenheiro." Mas não vou entrar nesses debates. Vou considerar como justa e correta a busca por ampliar o acesso à universidade às diferentes camadas sociais.

Nesse sentido, a intenção do projeto já se revela em sua introdução: considerar o ensino à distância uma das formas de garantir esse acesso sem grandes gastos em infraestrutura, que seriam impedimentos fortes. Lembro aqui um texto de Claudio de Moura e Castro, em favor do ensino à distância:

Logo após a criação dos selos de correio, os novidadeiros correram a inventar um ensino por correspondência. Isso foi na Inglaterra, em meados do século XIX. No limiar do século XX, os Estados Unidos já ofereciam cursos superiores pelo correio. Na década de 30, três quartos dos engenheiros russos foram formados assim. Ou seja, novo não é.

(…)

Mas, no caso dos longos [cursos], o calcanhar de aquiles do EAD é a dificuldade de manter a motivação dos alunos. Evitar o abandono é uma luta ingente. Na prática, exige pessoas mais maduras e mais disciplinadas, pois são quatro anos estudando sozinhas. As telessalas, que reúnem os alunos com um monitor, têm o papel fundamental de criar um grupo solidário e dar ritmo aos estudos. E, se o patrão paga a conta, cai a deserção, pois abandonar o curso atrapalha a carreira. Também estimula a persistência se o diploma abre portas para empregos e traz benefícios tangíveis – o que explica o sucesso do Telecurso.

Enfim, há casos de grande sucesso do ensino à distância, embora seja preciso um trabalho para evitar a deserção e o que Claudio chama de "embromação". Mas há dois pontos a se levantar no caso específico da UNIVESP: 1) ela se presta a formar licenciados, e não fornecer aprendizado técnico ou complementação de ensino fundamental e/ou médio – caso do Telecurso 2000; 2) é possível afirmar que a estrutura proposta para a UNIVESP servirá ao propósito nobre exposto na introdução de seu projeto?

Quanto ao primeiro ponto, já se deve questionar na base: é possível ensinar presencialmente formando-se à distância? Cursos relativos de alguma forma à pedagogia não podem deixar de dar ao aluno o caráter prático do específico metiér que é ensinar. Se os programas de estágio já são extremamente falhos na universidade, nada garante no projeto que haverá preocupação nesse sentido.

Já o segundo ponto merece uma análise mais detida, em especial contrapondo o projeto à argumentação. Partamos para um trecho posterior do projeto, já relativo ao público-alvo:

Num primeiro momento, espera-se que o projeto atenda parte da demanda por cursos superiores para os professores que ainda não o possuem, sem negligenciar o oferecimento inicial de alguns cursos de pós-graduação e M B As que possam promover a evolução de professores já graduados e que posteriormente possam atuar como multiplicadores e apoiadores do projeto.

Ou seja, professores que já trabalham como tal teriam a capacitação necessária para exercer a profissão. Ora, podemos ver isso de duas maneiras: uma aceitação da ideia de que há profissionais sem a qualificação necessária para ensinar trabalhando, não obstante sua não-formação. Por outro lado, sabemos da recente exigência, criada por lei estadual, de que todos os docentes da rede pública tenham ensino superior. Então a UNIVESP viria para corrigir esse problema. Ressalte-se que já há muitos anos essa situação dos docentes despreparados vem se agravando, e somente agora foi tomada uma atitude nesse sentido.

Mas, em seguida, a intenção de formar novos licenciados (e não apenas aprimorar os já empregados no ramo) fica patente:

Sugere-se que na fase inicial desta implantação, sejam objetivadas as áreas onde há maiores carências de formação ecapacitação docentes, de forma a aprimorar a educação básica no estado.

À parte a sintaxe sofrível do projeto, fica evidente a intenção de colocar os formados à distância para atender a demanda das escolas estaduais. O que entra em contradição com o discurso oficial anteriormente citado, de preferência aos professores que já trabalham no ensino público.

Mas vejamos os princípios operacionais do projeto:

Na primeira vertente, a TV Cultura, ainda operando em sua fase analógica, apresentaria ao menos duas horas de programação educacional por dia. Assim, haveria a possibilidade do oferecimento de meia hora diária de programação para cada um dos quatro cursos iniciais, permitindo o oferecimento de cinco disciplinas semanais em cada curso, média normal de disciplinas nos semestres letivos deste tipo de curso, além de dois cursos de pós-graduação baseados em transmissões realizadas aos sábados.

Sinto informar aos defensores do ensino à distância, mas o que vai acima é um acinte. Fazer uma cópia do Telecurso 2000 para formar professores é no mínimo ridículo. A estrutura de aulas pela TV pode servir para quem precisa completar falhas de formação, mas não para aquele que irá formar outras pessoas. Para isso é preciso muito mais do que conhecer o assunto que vai ser lecionado. Eu sei bastante de matemática, mas não me considero capaz de ensinar nem mesmo a aritmética elementar a alunos de primeira série pelo simples fato de que não tenho o mínimo treinamento necessário para lidar com os diferentes níveis de aprendizado dos alunos. Como alguém, assistindo programas educacionais na TV Cultura, pode aprender isso?

Mas ainda há coisas cômicas:

A relação do aluno com o professor responsável por uma disciplina, e com o tutor que acompanha a aprendizagem, pode acontecer de diferentes formas.
A primeira destas formas acontece quando da visualização do professor na televisão. Isto já promove uma certa relação pessoal, do mesmo tipo da que acontece entre o espectador e um ator.

Sem comentários. Adiante:

Entretanto, para que a aprendizagem seja continuamente orientada e incentivada, há que se criar uma estreita relação acadêmica entre alunos e professor. É nesta função que atua o professor-tutor, acompanhando e orientando todo o processo de aprendizagem.

Ou seja, o contato entre alunos e professores se dará por meio do intermediário "tutor", que provavelmente será um pós-graduando regiamente mal pago para exercer o papel do professor para os que tiverem dúvidas ou problemas. Mas o projeto nada diz sobre como será exercido esse tutoramento. Resta a impressão de que será também à distância, condicionando todo o aprendizado a um esquema virtual que, como sabemos, não se verificará na prática. Em suma: os que assistirão programas na TV terão o papel de apresentar o que aprenderam para os alunos da rede pública sem terem passado por nenhuma assistência real – só a virtual.

Quem chama esse curso de "semipresencial" não sabe do que está falando. Apenas as provas seriam presenciais, e os atendimentos feitos pelos tutores em alguns casos. A relação aluno-professor seria totalmente virtual. Logo, a propalação do termo "semipresencial" serve apenas a um propósito: amenizar a opinião pública que, em princípio, tenderia a ver na iniciativa a ver apenas mais um ato destrutivo da educação no estado de São Paulo. Esta opinião não estaria equivocada.

Tenho uma irmã no ensino estadual, cursando o primeiro ano do colegial. Neste ano, ao invés de distribuírem os tradicionais livros didáticos (não raro cheios de erros, mas ainda assim livros), preferiram dar cadernos de exercícios referentes às matérias. São péssimos. Quem duvida de mim deveria procurar esses cadernos. Um deles, de biologia, tem um erro primário: confunde teia alimentar com cadeia alimentar. Minha irmã, no primeiro ano do colegial, ainda não sabe o que é a tabela periódica. Não há nada no caderno dos dois primeiros bimestres sobre o que é o primeiro passo no ensino de Química.

Ou seja, somando-se todos os fatores, que motivos temos para acreditar que o ensino à distância proposto pelo governo estadual não é apenas mais uma forma de dar status de diplomados a pessoas sem a mínima formação? Que motivos temos para achar que as pessoas que se formarem nesse programa terão outra alternativa fora dar aulas no ensino público, sem a preparação necessária? Que as três reitorias das universidades estaduais paulistas nada façam contra essa precarização iminente do conceito de ensino superior é algo que causa assombro. E que a mídia não mostre a íntegra desse programa quando ele é citado como um dos motivos da greve na USP é vergonhoso.

Aos que dizem "PM nesses vagabundos!", fica meu sincero lamento. Principalmente aos alunos da Universidade de São Paulo que desconhecem tudo isso e apoiam a repressão violenta de um movimento que, se é extremamente falho, ultrapassado e em muitos momentos boçal, ainda assim tem a razão de revoltar-se contra essa política pública de educação que produzirá mais deficiências, sem resolver qualquer uma das já existentes.

Publicado pelo estudante de Letras Vinicius Melo Justo no blog Breviário.org

http://breviario.org/relances/2009/06/20/univesp-piora-iminente-travestida-de-boa-intencao/

Comparato: A autonomia universitária é uma farsa [entrevista]

20 DE JUNHO DE 2009 - 19h06

Um dos intelectuais mais respeitados do país, Fábio Conder Camparato critica a presença da Polícia Milistar no campus da USP e afirma que os serviços públicos no Brasil são entendidos como um 'ralo por onde somem os recursos'. Para ele, a autonimia universitária é uma farsa e as instituições de ensino no país não agem de maneira republicana.

O jurista sofreu uma decepção na última quinta-feira (18). Ao chegar para a avaliação de uma tese de Mestrado, o professor deparou-se com as portas da Faculdade de Direito do Largo São Francisco cerradas.

Por decisão do diretor João Grandino Rodas, o histórico prédio ficou fechado ao longo do dia por temor do que poderia ocorrer durante a passeata de estudantes, funcionários e professores de USP, Unesp e Unicamp.

Depois de subir ao caminhão de som dos manifestantes e afirmar que a reitora da USP, Suely Vilela, não tem mais confiança dos "dirigidos" para permanecer no cargo, o professor conversou com a reportagem da Rede Brasil Atual sobre a situação da Universidade – jornalistas de outros veículos acompanharam a conversa.

Para o jurista, a reitora, que deveria ser representante da comunidade universitária, comporta-se como secretária do governador José Serra, que utilizou a Polícia Militar como capangas do estado de São Paulo ao reprimir manifestação semana passada na Cidade Universitária.

Sobre a administração estadual, Fábio Konder Comparato aponta abuso no uso de publicidade como forma de promover eleitoralmente José Serra e destaca que tal propaganda vai contra a Constituição.

Há dois anos, o jurista foi vítima da aposentadoria compulsória, adotada para professores das universidades estaduais paulistas que atingem os 70 anos. Para ele, trata-se da "expulsória".

Ainda assim, o professor mantém estreita relação com a academia e desenvolve atividades nas áreas de Direito Comercial e dos Direitos Humanos, nas quais esteve focado ao longo dos últimos anos.

Como o senhor viu o fechamento do prédio da Faculdade de Direito do Largo São Francisco?

Eu acho que nunca aconteceu na Faculdade de Direito. É um ato insólito porque, se os diretores de faculdade e a reitora se queixam da greve, eles deveriam também se manifestar contra o lockout. Isso é exatamente o oposto da greve, é o lockout, que é quando uma empresa fecha as portas e não deixa entrar os operários. É o que aconteceu aqui e eu fiquei muito envergonhado como professor. Eu fiquei literalmente surpreso com essa decisão, que não tem a meu ver nenhum apoio nos princípios republicanos que devem reger a Universidade.

Como o senhor acompanhou os fatos da semana passada?

O que é grave é que a Polícia Militar, que é composta por oficiais e soldados dignos, dedicados, começa a ser utilizada como um grupo de capangas do governador do estado e da reitora da Universidade. Isso é humilhante não só para a Universidade, mas também para os oficiais e soldados. Eles têm que exercer o papel mantendo a segurança e a ordem pública.

São Paulo é uma cidade absolutamente desordeira e submetida ao banditismo mais desbragado. Não sei se as pessoas se dão conta, mas de um ano para cá o número de furtos de veículos crescem em 300%. Oras, é evidente que, para reprimir isso, é preciso saber utilizar a Polícia Militar, e não simplesmente concentra-la no campus da USP para atacar estudantes, professores e funcionários. É uma inversão de objetivos.
O serviço da polícia não pode ser utilizado desta forma. Isso é um abuso de poder por parte do governo do estado.

O senhor entende que os fatos feriram o conceito da Universidade como instituição autônoma?

Sem dúvida. Aliás, a autonomia da Universidade é uma farsa, a começar pelo aspecto financeiro. O artigo 207 da Constituição declara as universidades autônomas sob o aspecto didático-científico, financeiro e administrativo, e o que se verifica é que sob o aspecto financeiro a Universidade é tratada como se fosse uma simples fonte de gastos. Ou seja, para nós, tradicionalmente no Brasil, o serviço público é uma espécie de ralo por onde somem os recursos públicos. A função do serviço público é servir o povo, não é servir a economia e dar dinheiro.

Para nós, tradicionalmente no Brasil, o serviço público é uma espécie de ralo por onde somem os recursos públicos. A função do serviço público é servir o povo, não é servir a economia e dar dinheiro

A economia nós faremos restringindo a propaganda governamental. O governador do estado faz propaganda da sua gestão, indo contra a Constituição, e ele resolve fazer economia em serviços públicos. Isso é um escárnio. É preciso que se diga claramente que o Ministério Público Estadual é culpado por não atacar essa propaganda governamental que é feita com dinheiro do povo simplesmente para beneficiar o governador de plantão.

O artigo 37 parágrafo 1º da Constituição proíbe a publicidade oficial em tom de propaganda ou para projetar a figura oficial de políticos, e é o que se faz de alto a baixo em todos os estados da federação.

O senhor falou que a reitora perdeu a confiança da comunidade. Uma vez posto isso, qual o caminho a ser seguido?

Infelizmente, o Estatuto da USP não abre um caminho. É por isso que tem que ser mudado. A reitora da Universidade não é eleita pelo Conselho, ela é nomeada pelo governador. Claro, a partir de uma lista tríplice, mas essa lista é formulada por uma maioria esmagadora de professores. Os estudantes e funcionários são subrepresentados no Conselho Universitário.

E, além disso, no momento em que ela perdeu a confiança de todos, ela não pode ser destituída. Nem o governador pode a rigor destituí-la, porque ela é nomeada por tempo certo.

Isso não é democracia. Até agora, funcionou porque a exigência democrática na sociedade brasileira era muito fraca. Mas a nova geração não se conforma com isso. A minha geração ainda achava que a elite é que deveria governar e que o povo é ignorante e incompetente. Hoje, graças a Deus, essas noções vão desaparecendo.

O povo sabe que não é idiota e sabe que é explorado, que não tem condições de manifestar sua soberania. Qual o fundamento da democracia? Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes ou diretamente. Os reitores de universidades não são representantes do povo universitário, e isso é de uma verdade mais do que evidente.

Então, nós temos que continuar pregando a República e a democracia na Universidade mesmo quando não há chance para que nossa pregação seja ouvida. Aos poucos, nossas reivindicações vão penetrando nas consciências, e quando a maioria se convencer que nós vivemos um regime político imoral, explorador e desordeiro, esse regime estará com os dias contados. Infelizmente, não será para o meu tempo.

Os fatos da semana passada podem marcar um momento de inflexão dentro da luta por democracia na Universidade?

Eu espero que sim, mas é preciso não perder de vista o seguinte: toda vez que a imoralidade e a violência irracional crescem na sociedade, a direita se torna mais forte. A direita espera sempre que haja alguém forte e decidido para tomar conta do Estado. E é o que está acontecendo. Há um grupo forte de estudantes que não acredita mais em democracia e nunca acreditou em República e está esperando algo como um fascismo tupiniquim.

Eu não tenho raiva deles, pelo contrário, considero como meus filhos e, de certa maneira, eu sei que eles estão errados. Nós erramos ao deixar de lutar eficazmente pela democratização da Universidade, nós erramos ao sermos condescendentes com a corrupção, e agora estamos pagando o preço disso.

Por outro lado, a verdadeira esquerda não é anárquica ou destruidora. A verdadeira esquerda é aquela que se liga indissoluvelmente aos pobres, aos humilhados e aos oprimidos.

E é por isso que quando surge uma figura como o Lula, que está longe de ser perfeito, mas que tem sensibilidade pelo pobre e que fala a linguagem do pobre, ele é não só acolhido como ele é venerado. E isso irrita profundamente a direita e a esquerda.

Neste momento de greve, sempre há quem queira desmerecer as decisões tomadas em assembleias.

Olha, as eleições no Brasil e em vários outros países não são uma manifestação de soberania. O povo não consegue impor a sua vontade unicamente elegendo representantes. Para que possa impor sua vontade, seria preciso, em primeiro lugar, que além de eleger, tivesse o poder de destituir.

Isso se chama recall. Isso existe em 15 estados dos Estados Unidos. No momento em que o povo soubesse que ele pode eleger, mas que pode também destituir, a política mudaria de figura.

Em segundo lugar, o povo precisa ter o direito de se manifestar sobre temas econômicos, políticos e sociais diretamente. É preciso abrir o referendo e o plebiscito. O Congresso Nacional impede isso porque é contra o clube deles, tanto de esquerda quanto de direita.

Analisando em termos gerais, vê-se uma reação da sociedade opondo-se fortemente às ações estudantis, tidas como radicais. Qual o papel que a Universidade vem desempenhando na sociedade para que se acabe alastrando esse tipo de opinião?

O grande problema é que a Universidade, todas as universidades públicas de modo geral, talvez com honrosas exceções, agem com objetivos não-republicanos. Ou seja, como se fosse um assunto privado. Professores se ocupam com a sua carreira, funcionários com a sua carreira, estudantes com o seu diploma.

Esta faculdade está no centro de uma metrópole cujo peso de pobreza e de miséria é imenso. A cem metros daqui, nós podemos entrar em um cortiço onde as pessoas alugam cama por algumas horas. E sobretudo no frio, agora no inverno, fazem questão de alugar uma cama de alguém que acabou de sair porque ela está quentinha.

A Faculdade de Direito, que está aqui no centro da miséria, cujas portas se abrem toda manhã com dezenas de pedintes, de miseráveis que dormiram ao relento, a faculdade não se preocupa com isso.

Não há nenhum professor que dê como trabalho prático aos seus alunos cuidar de contratos de locação dos cortiços aqui do centro. Quer cuidar disso? Vai ver como se aluga cama durante oito horas e, portanto, dá três aluguéis por dia.

Quando se trata de discutirmos problema de direito do trabalho, por que não enviar os alunos até quem precisa?

A Universidade pública existe para quê? Qual o objetivo dela? Ela é financiada sobretudo pelos pobres, que não têm o menor retorno da Universidade. É claro que eles têm raiva. Agora, no dia em que as universidades se voltarem para os direitos dos pobres, aí eu quero ver as classes abastadas dizerem que a Universidade só faz desordem e que ela depreda, que ela atinge a Polícia Militar.

O problema brasileiro, fundamental, já foi dito na primeira metade do século XVII pelo primeiro historiador do Brasil, Frei Vicente do Salvador: nenhum homem nesta terra é republico nem zela e trata do bem comum, se não cada um do bem particular.

Com informações da Rede Brasil Atual.

sábado, 20 de junho de 2009

USP: Diálogo ou monólogo? [da Folha de São Paulo]

CAIO VASCONCELLOS e ILAN LAPYDA   

A reitoria fechou os canais de negociação. Isso expressa seu caráter autoritário e é coerente com a estrutura de poder da USP, infelizmente

APÓS MAIS de uma semana de presença da Polícia Militar no campus da USP,  a política repressiva da reitora Suely Vilela culminou na batalha campal de 9 de junho.
O conflito que se deu depois do fim da manifestação pela retirada da PM não se limitou ao portão principal, mas se estendeu até a parte central do campus, algo que não se via desde a ditadura militar: bombas de gás e de concussão, balas de borracha, prisões e um saldo de policiais, estudantes, professores e funcionários agredidos e feridos. É fundamental, pois, avançarmos no debate sobre a questão.
A reitoria fechou os canais de negociação com os movimentos da USP, deslegitimando a política como esfera de solução de conflitos e recorrendo a uma força externa de repressão.
Essa opção, que expressa seu caráter autoritário, infelizmente coerente com a estrutura de poder da USP, possui a especificidade de ser uma reação às atuais pressões externas e internas por democracia.
A USP tem enorme concentração de poder: apenas os professores titulares são elegíveis ao cargo de reitor, e este é eleito praticamente só por professores titulares. O colégio eleitoral do segundo turno, que de fato elege o reitor, restringe-se a cerca de 300 membros, dos quais 85% são professores (desses, mais de 90% são titulares), menos de 15% estudantes e apenas 1% funcionários.
Além disso, os membros do Conselho Universitário, instância máxima de decisão da USP e presidido pelo reitor, são em sua maioria professores titulares (cerca de 75%), muitos dos quais diretores de unidade -e, portanto, escolhidos pela reitoria.
As decisões mais importantes da universidade ficam concentradas nas mãos desses professores, que, segundo dados da USP, somam menos de 1% da comunidade universitária.
São números que relativizam as críticas de quem questiona a legitimidade das assembleias da Adusp (Associação dos Docentes da USP), do Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores da USP) e do movimento estudantil para se furtar ao debate político.
Além do fator estrutural, há um movimento crescente de autoritarismo que torna mais opacas as decisões políticas na USP.
Desde maio de 2008, as reuniões do Conselho Universitário não têm ocorrido em seu devido local, no prédio da reitoria, mas no Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares), área com proteção militar e não pertencente à USP.
Ao todo, cinco reuniões foram realizadas no Ipen. Em duas delas, os representantes estudantis e dos funcionários não foram avisados da mudança de local, o que resultou na aprovação do orçamento para 2009 e na reforma do estatuto da USP sem as suas presenças, além de outros graves problemas procedimentais na votação.
Tais ilegalidades estão sendo contestadas na Justiça, por meio de um mandado de segurança articulado pela Associação dos Pós-Graduandos da USP-Capital e impetrado por alguns representantes discentes (processo 053.09.012697-4). Ou seja, estamos "explorando a legislação vigente", ao contrário do que sugeriu o professor José Arthur Giannotti neste espaço na última quinta-feira.
Fatos dessa gravidade, aliados a outras formas de obstrução da já reduzida participação dos representantes discentes (RDs) nos conselhos decisórios, explicitam o que são as "vias institucionais" da USP.
Além de dispensar tratamento de segunda classe aos RDs, a Secretaria-Geral da USP, desde o início do ano e após seis pedidos formais de homologação, recusa-se a empossar os representantes da pós-graduação, baseando-se em uma nova interpretação "sui generis" e descabida do regimento interno da universidade.
Assim, depreende-se facilmente a falácia do conceito da reitora de "diálogo" e "convivência social pacífica".
Não seria a reitora, bem como o grupo do Conselho Universitário que legitima suas medidas por meio de "resoluções", o pivô da violência e da violação -das instituições, da democracia e da política-, ao se esconder em área militarizada e militarizando o campus para não se abrir ao debate?
Como a reitora, com a conivência da maior parte do Conselho Universitário, orquestra votação de temas fundamentais impedindo a presença da representação estudantil?
O atual clima de horror é incompatível com as funções de reflexão crítica e produção científica independente. A USP deveria ser o espaço do diálogo efetivo, e é ele que deve mediar os legítimos conflitos políticos.
Se a democracia está travada e a violência parte da reitoria, ao se furtar ao debate e recorrer à repressão policial, fica claro que Suely Vilela não possui condições nem competência de se manter no cargo e que a atual estrutura de poder tem de ser radicalmente transformada.

CAIO VASCONCELLOS, 27, e ILAN LAPYDA, 25, formados em ciências sociais, são mestrandos em sociologia na USP e coordenadores da Associação de Pós-Graduandos da USP-Capital, que ratifica este texto.

A Univesp é um bom caminho para ampliar o acesso ao ENSINO SUPERIOR no país?

Univesp é arremedo de ensino superior (Artigo)
Data: 20/06/2009
Veículo: FOLHA DE S. PAULO - SP
Editoria: TENDÊNCIAS E DEBATES
Jornalista(s): CÉSAR AUGUSTO MINTO

NÃO

CÉSAR AUGUSTO MINTO

NO BRASIL , é comum atribuir relação intrínseca e biunívoca entre ensino à distância (EàD) e tecnologias de informação e comunicação (TIC), modernas ou não.

Ledo engano, pois tais tecnologias não caracterizam nem sequer são exclusivas do EàD. A incorporação das TIC no ensino presencial, por sinal, é modesta, entre outros motivos, porque faltam às instituições de ensino recursos para prover a infraestrutura necessária.

Por outro lado, a prática do EàD no país apresenta características negativas: 1) cursos modulares, aligeirados; 2) reduzida carga de ensino presencial, nem sempre conduzida por professores (substituídos por monitores e tutores); 3) fragmentação do processo de ensino: planejamento, elaboração, acompanhamento e avaliação realizados por pessoas distintas; e 4) precarização do trabalho dos docentes, monitores e tutores, todos submetidos a contratos temporários. Educadores e pesquisadores têm estudado o tema. Experiências que também se valeram em parte do EàD (como as licenciaturas parceladas no MT e o projeto Gavião no PA) auguram alguns indicadores positivos.

Mas ainda não dispomos de um conjunto fundamentado de saberes sobre o assunto que justifique a adoção plena do EàD. Contudo, instituições e pessoas distorcem os esforços citados para defender o seu uso indiscriminado, a começar pela formação de professores e em larga escala. Os defensores incondicionais do EàD têm agido rapidamente, tanto no plano nacional (criação da UNIVERSIDADE Aberta do Brasil) como em SP, onde criaram o programa UNIVERSIDADE Virtual do Estado de São Paulo (Univesp). Discutiremos aqui duas de suas alegações: 1) EàD e Univesp democratizam o acesso ao ENSINO SUPERIOR (ES) e 2) suprem a falta de professores de algumas disciplinas.

Grande contingente de pessoas não tem acesso ao ES presencial, supostamente por questões sociais ou geográficas; assim, a adoção do EàD seria uma iniciativa democratizadora. Porém, muitos desses excluídos residem em municípios onde há ES público, presencial e de qualidade, mas sem vagas em número suficiente.

Ora, se há jovens alijados do ENSINO SUPERIOR por razões sociais ou econômicas, os instrumentos a usar são outros: cursos noturnos, bolsas de estudo, moradia estudantil etc. Quanto às regiões desprovidas de ES, o Plano Estadual de Educação-Proposta da Sociedade Paulista (parado na Assembleia Legislativa) resolveria tal problema por meio da expansão das instituições públicas presenciais.

Do ponto de vista educacional, o EàD poderá trazer inúmeras limitações para os estudantes, desde ausência de programas de iniciação científica a dificuldades de acesso a boas bibliotecas e a laboratórios bem equipados. E serão privados da indispensável interação entre os estudantes, destes com os professores e de uns e outros com os objetos de conhecimento, em prejuízo da aprendizagem.

Vários países adotam EàD para contemplar pessoas que não podem ser atendidas presencialmente: impossibilitados de locomoção, prisioneiros, militares engajados em regiões de fronteira etc. Por que não se faz isso no Brasil? Por que se busca impor o EàD em substituição ao ensino presencial regular?

Todas as redes públicas de ensino, incluindo a paulista, sofrem com a falta de docentes, em especial de física, matemática, química e biologia. Mais do que a insuficiência de professores formados, porém, prevalece a precariedade das condições de trabalho e salário nessas redes, ignorada por sucessivos governos.

Há um contingente subutilizado de docentes que estão atuando em outras áreas por ausência de condições na rede pública paulista. Curiosamente, um dos cursos que darão início à Univesp, com 5.000 vagas, é o de pedagogia, área na qual não faltam profissionais!

Por que comprometer perigosamente a formação de professores nas próximas gerações? Por que oferecer apenas e tão-somente o EàD àqueles que, por razões socioeconômicas e, sobretudo, pelo sucateamento da rede pública, não estão tendo a oportunidade de frequentar o ENSINO SUPERIOR público presencial?

CÉSAR AUGUSTO MINTO, 59, é professor na Faculdade de Educação da USP e vice-presidente da Adusp (Associação dos Docentes da USP).


Fora PM da USP!

"O atraso no espelho", sobre a greve na USP, do professor Eugênio Bucci, da ECA.

Eugênio Bucci* -

Fratura exposta. A evolução das tensões na Cidade Universitária, centro da mais prestigiosa, mais influente e mais produtiva instituição de ensino superior no Brasil, deixa transparecer as mazelas, as fraquezas e as debilidades da instituição. É uma pena. Conforme o ângulo, às vezes é um vexame. 

Vexame número 1: uma tropa de policiais sai disparando balas de borracha e distribuindo bombas de gás lacrimogêneo e de efeito (i)moral contra estudantes, professores e funcionários. A Polícia Militar (PM) trata a Universidade de São Paulo (USP) como se ela fosse um presídio rebelado.

Vexame número 2: o movimento grevista dos funcionários imagina que consegue sustentar-se na base de piquetes que, em lugar de convencer pela argumentação, intimidam por meio de barreiras físicas. Enquadra-se, voluntária e festivamente, no estereótipo das "minorias radicais", dessas que só veem o próprio umbigo.
Vexame número 3: a cúpula da universidade, encastelada em órgãos de poder ultrapassados, que não representam o conjunto da comunidade, adota o discurso "da lei e da ordem", num tom que faz lembrar velhas histerias autoritárias. Em nome dessa "lei" e dessa "ordem", convoca agentes de metralhadora a tiracolo para reprimir manifestações de gente descontente e desarmada. Mais ainda, convoca-os para se manterem no câmpus pelos dias subsequentes, como se a universidade precisasse de cassetetes ostensivos para levar sua vida normal.

Vexame número 4: de outra parte, quase todos os que repudiam a presença da força bruta (e armada) na universidade fecham os olhos para a notória ausência de representatividade do movimento grevista, que, apesar de toda a barulheira, só conseguiu paralisar áreas isoladas. A imensa maioria da comunidade segue com seus afazeres regulares, indiferente a tudo isso. Se a falta de legitimidade do sindicalismo universitário é um problema, o silêncio obsequioso em torno dela é, sim, um vexame.

Vexame número 5: é verdade que há bons alunos engajados no movimento, mas há, também, excelentes alunos e professores que desprezam acintosamente as reivindicações de seus colegas, que ignoram as assembleias e não tomam conhecimento do debate. Nesse caso, o vexame resulta da omissão. Enquanto a USP se convulsiona, muitos dos seus melhores mestres preferem nem ligar, como se as paralisações e ocupações mantidas por algumas dezenas de sindicalistas fossem tempestades sazonais, que nos aborrecem durante uma época do ano e depois passam. Sem se dar conta, esses professores exprimem a mais rebuscada forma de alienação que a vida acadêmica pode produzir.

Dentro do cenário que, no todo, é um festival de despreparo, cada um alardeia sua razão individual.
A polícia dirá que foi provocada e por isso agiu com dureza – o que talvez proceda, mas não deveria ser justificativa, jamais: representantes do Estado não podem reagir emocional e desproporcionalmente a provocações da juventude.

A Reitoria, empenhada em fazer amigos e influenciar pessoas, dirá que chamou os homens da lei porque tem o dever de proteger o patrimônio da universidade – dever que ela tem, de fato, mas pergunte-se: não existiria um caminho menos traumático?

Os grevistas argumentarão que ganham pouco – o que também é verdade: os professores da USP, por exemplo, têm salários menores do que seus colegas das universidades federais. Agora, será que não existe um método mais efetivo para se formular e negociar a pauta de reivindicações?

As razões de cada um, corporativistas e surdas, produzem, no seu conflito, a irracionalidade geral. A USP vive uma crise (uma fratura) bem maior que o mero enfrentamento entre sindicalistas intolerantes e uma Reitoria que, por sua constituição orgânica, pela forma como é escolhida, encontra-se desaparelhada para promover o diálogo na comunidade. O mal-estar não deve ser imputado a essa ou àquela pessoa. Trata-se de um mal-estar do próprio modelo: sindical, de um lado, e institucional, de outro.

Na USP de hoje, quem se bate são as mentalidades de ontem. O atraso olha-se no espelho. Num polo está esse sindicalismo cujas fantasias datam dos anos 1960. Para ele, o gozo supremo parece ser o esporte de jogar pedras nos capacetes da tropa de choque, esporte que agora já não oferece riscos. No outro polo entram os órgãos colegiados que abriram mão de se atualizar e supõem que os professores titulares detêm, sozinhos, tudo o que é preciso saber para decidir os rumos da instituição. Um polo se alimenta do outro e nenhum dos dois tem a chave da porta que precisa ser aberta. Com ambos é preciso romper.

Rever o modelo de gestão da USP é um imperativo urgente. É preciso reformar os órgãos de decisão e o regime administrativo. Claro que isso só pode ocorrer com o envolvimento de mais professores e mais funcionários, principalmente daqueles que fazem de conta que o mal-estar não é com eles. O mesmo esforço, se ocorrer de fato, tenderá a renovar as entidades sindicais, obrigando-as a se preparar para o debate sobre o futuro da USP. Sem isso a mais prestigiosa, mais influente e mais produtiva instituição de ensino superior no Brasil poderá perder sua liderança. Ficará para trás.

Sou professor da USP. Senti uma sufocante humilhação quando vi, em vídeo, as cenas de violência entre policiais e manifestantes na Cidade Universitária. Foi como se eu mesmo estivesse ali, apanhando. Não aceito a violência, mas não é por isso que vou bater palmas para um movimento sindical cheio de vícios e dizer que a culpa de tudo é da Reitoria. A responsabilidade é de todos nós que não temos sido capazes de, coletivamente, articular um projeto de universidade. A pancadaria no câmpus apenas rasgou o tecido das aparências – e expôs a fratura que já estava lá.

* Eugênio Bucci é jornalista e professor da Escola de Comunicações e Artes da USP.

http://www.estadao.com.br/suplementos/not_sup389397,0.shtm

[INFO Online] Por que os grevistas são contra e-learning?

Paula Rothman, de INFO Online Sexta-feira, 19 de junho de 2009 - 19h30


Por que os grevistas são contra e-learning?

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Ato pela saída da PM, da Reitora Suely: Início da campanha pelo fim da UNIVESP!

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O Ato Unificado contou com milhares de pessoas -- professores, funcionários e estudantes da USP, Unesp e da Unicamp, segundo estimativa dos presentes.

Tendo como pautas centrais a saída da reitora Suely Vilela e a saída da PM da Cidade Universitária da USP, o ato representou também uma ação da campanha: ABAIXO A UNIVESP! -- Pela Expansão de Vagas Presenciais, Gratuitas e de Qualidade nas Universidades Públicas!

Em breve, mais informações sobre o Ato de hoje! Abaixo, algumas fotos:

Algumas (não as melhores), no G1:
http://g1.globo.com/Noticias/Vestibular/0,,MUL1199298-5604,00.html

Algumas (muito boas), na Rede Brasil Atual, que está fazendo uma cobertura bastante ampla de nossa mobilização de hoje:
http://www.redebrasilatual.com.br/multimidia/albuns-de-fotos/manifestacao-usp/

Algumas (muito boas), no Uol:
http://educacao.uol.com.br/album/20090618-protesto-usp-unesp-unicamp-paulista_album.jhtm?abrefoto=12

Mas Há Primaveras

A comunidade universitária e a opinião pública têm procurado, atônitas, acompanhar os acontecimentos recentes na Universidade de São Paulo. Como acreditar que professores, alunos e funcionários da USP, em especial da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, sejam criminosos cujos atos merecem ser severamente reprimidos com bombas de efeito moral, gás lacrimogêneo e gás pimenta? Como acreditar que querem destruir seu patrimônio, agir com violência e causar danos aos demais? quem acredita nisso? por quê?

Se se compararem as informações e declarações dos últimos dias, será possível repor a situação. Em plena negociação salarial, em 25 de maio, a Reitoria fechou as portas do prédio e não deixou parte da comissão de negociação entrar. Ao agir assim e quebrar a regra da cultura democrática instituída, não era improvável que soubesse da reação dos estudantes que, impedidos de entrar, poderiam forçar a porta e fazer uma "invasão" relâmpago. Mas, depois dos acontecimentos de 2007, havia uma resolução do Conselho Universitário autorizando a Reitoria a chamar a polícia quando julgasse necessário, a qual foi aplicada.

Docentes e estudantes sabem ensinar e estudar, principalmente. Talvez até, de um modo um tanto canhestro e desafinado, também saibam protestar. Alguns estudantes gritam e chegam a tirar cadeiras e pô-las diante das salas de aula, impedindo a entrada nelas – sinais de sua impotência, de sua insegurança e da desinformação acerca de outros canais de manifestação mais legítimos e eficazes, de que os professores (ainda) dispõem. Mas essa alegada "violência" estudantil não tem parâmetro com as armas usadas pela PM, treinadas para eliminar malfeitores, e descontentes. .. Inacreditavelmente, a atual reitora da Universidade de São Paulo pensa que sim!

Isto é ofender a USP e todos os seus membros. Pretextando grupelhos, radicais e sabe-se lá mais o quê, a Reitoria entregou a direção da universidade a um comandante policial. Ao ser alertada por um docente de que a presença da polícia no campus poderia causar graves danos físicos e morais a membros da comunidade, e de que as armas utilizadas pelas tropas contemplavam escopetas e metralhadoras, a reitora limitou-se a dizer que a escolha das armas adequadas à ação policial não era da sua alçada. A reitora transferiu sua responsabilidade pela vida dos estudantes, professores e funcionários, das crianças e adolescentes que estudam na Escola de Aplicação, e de todos aqueles que livremente transitam pelo campus Butantã da USP, a um coronel da PM.

Os professores da USP não estavam em greve. A campanha salarial e a carreira docente importam aos professores porque sabemos o efeito nefasto que salários aviltados causam ao ensino, como temos visto na precarização do ensino secundário. Os mais velhos se lembram de como o ensino médio público era padrão de qualidade para a escola privada, o que hoje nos parece um sonho desaparecido. A recuperação salarial nos importa para que a Universidade pública não passe a ter salários tão baixos que os melhores profissionais prefiram se afastar dela e servir apenas à iniciativa privada, com seu principal interesse no lucro, e levando ao desaparecimento das investigações independentes que interessam ao coletivo. Lutar por salários, todos sabem, é lutar por deixar uma universidade com melhor qualidade e para que a USP tenha o que comemorar daqui a 25 anos.

Os estudantes da USP não estavam em greve. O temor relativo à Univesp, ou Universidade Virtual do Estado de São Paulo, provém da convicção de que a expansão virtual da Universidade se fará à custa da qualidade do ensino e em detrimento das políticas de permanência estudantil por que vêm lutando, da construção de salas de aula presenciais, bibliotecas, laboratórios, moradias e restaurantes universitários, temor compartilhado por alguns professores que relataram desconfianças na implantação do Programa.

Todos estes são assuntos importantes para homens e mulheres que, trabalhando dentro da Universidade, abdicaram de ser meros consumidores e reprodutores de um saber para, com diversas dificuldades, se tornarem sujeitos de conhecimento, de ação e de transformação da sociedade. Requeriam, pois, que decisões dessa monta fossem tomadas com o conhecimento da ampla maioria da comunidade acadêmica, e não por decretos e resoluções. Todavia, recusando-se a negociar, a esclarecer, a Reitoria da USP teve como única resposta para a dificuldade do momento inventar uma ocupação para chamar a polícia. No dia 9 de junho os professores em assembléia, pensando em conjunto como retomar as negociações, ouviram tiros e gritos que dificilmente esqueceremos. Do prédio da Reitoria, de uma de suas janelas, umas dez cabeças assistiam ao lúgubre espetáculo de alunos e professores fugindo das bombas e sendo acuados no prédio da História. Apesar disso, e embora vários colegas tenham tentado contatos com a reitora, a fim de evitar um desfecho de proporções inimagináveis, ninguém, em momento algum, atendeu aos chamados dos docentes. Contatado, finalmente, o governador se calou: as armas já tinham falado por ele. Passado o furacão, reitoria e aliados vêm a público se manifestar e justificar atos injustificáveis.

O tecido universitário está desfeito. Todos os que defendem uma universidade pública, com direito a discussões, propostas, ações solidárias e coletivas, deixamos de reconhecer a reitora como interlocutora de nossa prática acadêmica. É verdade que, dentro e fora da Universidade, há os que aprovam a ação da polícia, alegando destruição do patrimônio público; desqualificam a decisão das assembléias em favor da greve, apelando para o direito dos que querem aula, embora não compareçam a elas; contestam os piquetes de funcionários e alunos, argumentando serem contra uma "violência generalizada". Essas mesmas vozes recorrem a proposições vagas e metafísicas, que, descoladas de seu contexto político, ridicularizam o direito "à diferença", "à opinião" etc.; mas se calam diante de questões materiais decisivas para a Universidade estadual, como a destruição do patrimônio público perpetrada, esta sim, pela polícia e por fundações privadas instaladas no interior da USP. Negando o direito à greve e a piquetes, propõem em seu lugar que cada um faça o que bem entender, desde que confortavelmente instalados em seus gabinetes particulares, ao abrigo do espaço coletivo e presencial de discussão. Parecem supor que a condenação das assembléias de professores e estudantes é feita ainda em favor do direito do aluno, como pagador de impostos, de ter sua mercadoria-aula. Ao sobreporem a figura do consumidor à do cidadão, transferem a cultura da universidade privada para dentro da Universidade pública, transformando os grevistas em anti-cidadãos- vendedores que não cumprem sua parte no troca-troca do mercado – como se estes não pagassem também seus impostos e não tivessem direito a forma alguma de dissidência. Certamente que, assim, esse discurso cala-se diante da destruição da Universidade pública levada a cabo por governos neoliberais e encobre sua adesão à mesma ordem de coisas, sob a capa de uma pretensa motivação pacifista.

Neste sentido, a Universidade deve se envergonhar de que uma parte do seu corpo docente e discente não condene a ação policial contra atos de caráter político: pois isso significa que essa parte não se importa com o coletivo e com o tipo de conhecimento e ética que estão sendo transmitidos nessa Universidade. A sociedade deve saber disso e querer que, na Universidade de São Paulo, os professores, os médicos, os arquitetos, os atores, os engenheiros, os biólogos, os psicólogos e todos os que aí se formam, com a contribuição de todos nós, visem mais ao bem coletivo que ao seu único e próprio lucro. E fazer parte da coletividade implica ter de olhar para além do seu escritório particular, do seu consultório e da sua sala de aula.

Agora a Universidade de São Paulo está em greve, exigindo a retirada imediata e definitiva da polícia no campus, para que retornem as condições de diálogo entre todos os envolvidos. Mas desde que a Universidade foi violentada com a permissão, ou pior, a mando de seus dirigentes, os professores requerem que a atual reitora se afaste do cargo e torne a ser algo de que possa se orgulhar: professora. Oxalá, assim, o próximo reitor compreenda que uma universidade não se faz virtualmente, nem com tropas militares, mas com docentes, estudantes e funcionários preocupados com o ensino e com a pesquisa, e sobretudo, com fazer parte de uma menos triste humanidade.

Essa carta foi enviada a diversos veículos de comunicação, mas por motivos óbvios, não foi publicada.

Adma Fadul Muhana

UNIVESP adiada para 2010! [da Folha de São Paulo]

USP adia ensino a distância para 2010
Principal motivo é um impasse entre a universidade e a Secretaria de Ensino Superior sobre o modelo do programa.
Professores afirmam que pasta teria todo o controle do curso; secretário diz que projeto foi aprovado por comitê formado por docentes


FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL

Em meio à greve de professores, funcionários e alunos, a USP adiou o início da primeira graduação a distância da universidade, a de licenciatura em ciências. O vestibular seria em agosto, com aulas no mês seguinte, mas deve ficar para 2010. O fim do projeto de cursos a distância é uma das bandeiras dos grevistas -para eles, o modelo não tem a qualidade do ensino presencial.

A Folha apurou que o principal motivo do adiamento é um impasse entre a universidade e a Secretaria de Ensino Superior sobre o modelo do projeto. A discordância, dizem professores que participam do programa, ocorre desde antes da paralisação, iniciada em maio.

A USP não divulgou oficialmente o adiamento, mas os docentes foram taxativos ao indicar a impossibilidade de início em 2009. O próprio secretário de Ensino Superior, Carlos Vogt, vê como "improvável" a manutenção do calendário.

A previsão é que o curso seja implementado por meio de convênio, ainda não assinado, dentro da Univesp - que reúne as universidades públicas para oferecer cursos a distância, sob coordenação da secretaria.
A Univesp (Universidade Virtual do Estado de São Paulo) é o principal programa da pasta, criada pelo governador José Serra (PSDB) no início do mandato. Também é um dos projetos mais importantes do Executivo para qualificar os professores do ensino básico.

O financiamento do curso ficaria a cargo do governo - R$ 12 milhões por cinco anos, com 360 vagas anuais.
Segundo a Folha apurou com docentes do programa, a USP não concorda com o formato exigido pela pasta. Entende-se que há "ingerência" e "interferência" do governo.

A queixa é que o projeto pedagógico teria de ser aprovado pela secretaria, que poderia também usá-lo para oferecer em outros cursos. Afirmam também que os dados ficariam hospedados em servidores do governo. Assim, dizem, a secretaria teria todo o controle do curso, que é debatido na universidade desde 2004.
Uma hipótese levantada na USP é que o curso saia da Univesp e apenas seja bancado pelo governo (sem precisar atender aos termos do programa). Outra é a própria universidade custeá-lo. Ainda assim, as aulas não começariam neste ano.

Compromissos

O secretário Vogt admite que o calendário inicial não será cumprido. "Na melhor das hipóteses, as aulas poderiam começar no final do ano. Mas teríamos de chegar a um acordo sobre o convênio até o mês que vem, o que não é provável."

Segundo ele, o curso deve começar no ano que vem. "Não há questão substancial que impeça a oferta do curso", disse Vogt, que não quis detalhar quais são os impasses.
Ele, porém, rebateu as reclamações dos docentes. Diz que o projeto foi aprovado pelo comitê diretivo da Univesp, formado por professores das universidades, inclusive os reitores.
Afirmou também que a pasta não pretende se apoderar do conteúdo e que os dados ficariam no sistema do governo apenas para monitoramento.

Em nota, a reitoria da USP diz que "o curso depende do estabelecimento de convênio com a secretaria, que garanta o financiamento das atividades e infraestrutura necessária, com vistas à qualidade que permeia os cursos na universidade".

A Unesp, que vai oferecer 5.000 vagas para pedagogia na Univesp, afirma que o projeto está dentro do cronograma e deve começar neste ano.

Da Folha de São Paulo.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1806200911.htm [apenas para assinantes]

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Alteração no Calendário: ATO AMANHÃ, às 12h no MASP!

ATO PELA SAÍDA DA REITORA SUELY VILELA E PELA SAÍDA DA PM DA USP!

Concentração: 12h no vão do MASP,
Destino: Largo do São Francisco.

Estão construindo este ATO presentes os professores,
funcionários e estudantes da USP, UNESP E UNICAMP!


Nos vemos lá!

[por esse motivo, a assembleia dos estudantes de Letras foi cancelada. Em breve será divulgada a data e horário de acontecimento da mesma.]

Violência na USP - Texto de Marcos Nobre na edição de 16/06/09 da Folha de São Paulo

ANÁLISES da violência da última semana na USP falaram em nome da democracia. Tanto quem apoiou como quem condenou o recurso à força policial apelaram para a Constituição Federal e para o Estado democrático de Direito. Esse apelo comum mostra consolidação e vivacidade da Constituição e da democracia no país. Mas só quer dizer alguma coisa se ficar claro o que realmente está em jogo nesse caso.

E o que está em jogo certamente não é a ação policial. Ela é sintoma, não causa. O fundamental é saber por que afinal a polícia foi chamada. Dizer que uma intervenção da polícia hoje é diferente de outra praticada durante a ditadura militar é dizer o óbvio. Dizer que a ação da polícia pretendia simplesmente restaurar a ordem ignora que todo o problema está justamente nessa ordem a ser restaurada.

No Brasil, as universidades foram espaços fundamentais de resistência à ditadura militar. Tentavam se organizar como refúgios em que se procurava produzir em escala reduzida o que se pretendia expandir um dia como um ambiente de convivência democrática mais amplo. Um requisito crucial era o de manter a polícia o quanto possível longe desse experimento.

A ditadura foi pouco a pouco derrotada. Instituições democráticas se firmaram. Mas esse não é um processo uniforme rumo ao melhor: basta ver a podridão exposta do Congresso Nacional. Também não é um processo automático: a mera existência de instituições democráticas não garante que a sociedade como um todo se tenha democratizado.

O que torna o conflito na USP mais amplo do que os muros da escola é justamente o fato de revelar quão baixo ainda é o nível de democratização da sociedade brasileira. O episódio mostra com clareza que energias de protesto e de mudança continuam represadas em universidades, sem encontrar canais efetivos de expressão na esfera pública e na política institucional.

A USP tornou-se um emblema desse nó social por insistir em manter uma estrutura de participação e uma forma de escolher dirigentes que se parece mais com o conclave que elege o papa. Continua a preservar a estrutura de uma universidade de cátedras, modelo rejeitado pela própria USP há mais de 40 anos.

A recusa em proceder a uma reforma estrutural aprofunda cada vez mais o isolamento da administração em relação à comunidade da universidade, visível há mais de uma década. Produz atritos internos que rapidamente degeneram em conflitos artificiais. O apelo à intervenção policial é o último recurso de um grupo dirigente divorciado da própria universidade.

nobre.a2@uol.com.br

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MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta coluna. [+coluna]


http://www1.folha.uol.com.br/fsp/corrida/cr1606200908.htm
[apenas para assinantes]

Grevistas exigem fim de curso para professor - do Estadao.com.br

Aula a distância para docente da rede pública entrou na lista de reivindicações

Simone Iwasso

SÃO PAULO - Entre as bandeiras de reajuste salarial, aumento de benefícios e mais recursos para permanência estudantil, o movimento grevista da Universidade de São Paulo (USP) incluiu em suas reivindicações o fim de um projeto que está começando a se concretizar: a Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp). Idealizada pelo secretário de Ensino Superior, Carlos Vogt, ex-presidente da Fapesp e ex-reitor da Unicamp, ela pretende usar a chancela das três universidades estaduais paulistas para oferecer cursos semipresenciais para professores, de preferência da rede pública. O projeto é também uma das principais ações da pasta, polêmica desde sua criação, e não deixa de ser uma alternativa paulista ao programa de formação do Ministério da Educação (MEC), que tem como um de seus pilares a Universidade Aberta do Brasil, também com cursos semipresenciais.

Criada no fim do ano passado por decreto do governador José Serra (PSDB), este ano a Univesp começou a ganhar forma. A Unesp anunciou a criação de um curso semipresencial de Pedagogia, com previsão de início no segundo semestre. O curso foi aprovado em dezembro pelo Conselho Universitário da instituição. Em fevereiro, o Conselho Universitário da USP aprovou a criação de um curso de Licenciatura em Ciências semipresencial, com vestibular marcado para 2 de agosto. Serão oferecidas 360 vagas e professores da rede pública da educação básica, público alvo do curso, receberão bônus na nota final. O início das aulas está previsto para o dia 21 de setembro.
O curso da USP funcionará nos câmpus da capital (90 vagas), de São Carlos (90 vagas), de Piracicaba (90 vagas) e de Ribeirão Preto (90 vagas). Parte das aulas será ministrada presencialmente aos sábados – será usado o sistema de videoconferência. O restante do conteúdo deverá ser acompanhado pela internet. A duração será de quatro anos.

O grande objetivo desses cursos, e sua importância, segundo os defensores, é que, ao associar aulas presenciais nos polos da universidade com o acompanhamento pela internet, por meio de plataformas virtuais, é possível preparar professores que já atuam na rede, mas não têm formação adequada. Os críticos da iniciativa questionam o método semipresencial, vendo nele uma falta de infraestrutura e qualidade. Procurado pelo Estado, o secretário Carlos Vogt não se pronunciou sobre o tema.

http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,grevistas-exigem-fim-de-curso-para-professor,387771,0.shtm