quinta-feira, 11 de junho de 2009

Relato do Profº Ádrian Fanjul (DLM/FFLCH - USP) sobre a invasão e a ação policial ocorridas no dia 09/06

Abaixo, a íntegra do relato do professor Ádrian Fanjul, da área de Espanhol do Departamento de Letras Modernas da FFLCH/USP. Esse relato foi elaborado no dia 09, após a ação repressiva da invasão da PM no campus Butantã da Universidade de São Paulo contra professores, funcionários e estudantes das três universidades estaduais paulistas. [grifos nossos]

"Caros colegas:

Hoje de tarde estava acontecendo a assembleia da ADUSP, no anfiteatro da Geografia, com uma grande quantidade de professores, quando fomos avisados que havia enfrentamentos com a Polícia. Uma parte da Assembleia foi ver o que acontecia, outros quiseram ir para mediar, muitos ficamos esperando no hall da Geografia.

Foi perfeitamente visível, primeiro, como a PM perseguia os manifestantes (muitos, vimos muitos alunos que cada um de nós conhece perfeitamente como aluno), e como jogava bombas e balas de borracha.

Vieram para o prédio e a polícia chegou a jogar várias bombas de gás pimenta dentro do hall, logo no momento em que, na Avenida, a Diretora tentava mediar.  Pelo menos um centenar de professores estávamos ali e tivemos que nos proteger desse ataque, vários passaram mal. Nós, corridos com bombas. Nós, docentes, pesquisadores, que imagino que não preciso dizer que não portamos armas, como não as portam os alunos nem os funcionários, mas antecipo isso porque espero que ninguém tenha o mal gosto, nestas circunstâncias, de teorizar justificativas sobre se merecíamos passar por esse trato. Depois de momentos de aflição, de nos reencontrar na confusão para tentar encontrar palavras para a humilhação e a injúria dessa gente que comanda (agora sim, o verbo faz sentido) a Universidade e que não podia não saber que ali acontecia a assembleia da ADUSP, decidimos fazer de tudo para tentar que a Faculdade não fosse invadida e não houvesse mais confronto.

A Diretora, Sandra Nitrini, dando um verdadeiro exemplo de quem se importa sim pela instituição que dirije, esteve tempo todo ali. Muitos dos professores presentes, junto com a Diretora, tentamos convencer os alunos (muitos) de que se reunissem no hall e não na Av. Luciano Gualberto. Em todo esse tempo, Suely Vilela não atendeu um só telefonemas dos muitos que foram feitos.

 Estão  presentes aqui um deputado e vários vereadores (desculpem, esqueci os sobrenomes deles), um dos quais conseguiu uma reunião com o Vice-Reitor, Franco Lajolo, convidando representantes das 3 categorias. Os docentes que estávamos (muitos, porque vários que não estavam, na Assembleia chegaram depois), decidimos que por parte dos docentes, participasse com uma comissão. Os estudantes em assembleia por enquanto decidiram não ir, mas  a comissão de professores decidiu ir igual e leva uma única proposta: chega desta vergonha, nem um policial no Campus.

O sentimento geral dos que estamos e estivemos aqui, nós, colegas de vocês,  corridos dentro de nossa própria Faculdade com gás lacrimogêneo, é que esta injúria precisa ser o fim de um caminho e alguém tem que ter a decência de sair de um lugar de poder que faz tempo que não lhe corresponde. Talvez o fato de que quem está tentando (ou aceitando?) falar com a comunidade é o Vice-Reitor, seja um sintoma de que chegou o final da  "gestão" que temos sofrido. Esperamos sinceramente que assim seja, quando o gás lacrimogêneo se disperse e a tropa saia. Posso usar esse plural porque entre nós, pelo menos todos que vi, ainda os mais moderados, havia uma grande coincidência nisso.

Estamos aguardando o resultado da conversação com Lajolo para o que agora preocupa todo mundo: a polícia no campus.

A Assembleia dos docentes será retomada amanhã, às 10h, na Geografia.

  Um abraço

Prof. Dr.  Adrián Fanjul."

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